Mãe é um ser engraçado, né? E eu não estou falando simplesmente das confusões que reinam em nossas cabeças. Mas é que de vez em quando temos umas bobeiras, umas vergonhas de mãe, que eu nem sei explicar direito.

Bem no comecinho da vida do meu filho, estava conversando com uma amiga (também recém-chegada à vida pós maternidade) sobre cólicas de bebê e os possíveis tratamentos para aliviar a dor.

Falávamos sobre o que o pediatra de cada filhote tinha indicado, o que tínhamos lido neste e naquele site, o que outra amiga havia contado.

Em meio a esse monte de informações, a sogra dessa amiga, que estava conversando com a minha sogra na mesma sala que nós, entra na nossa conversa:

– No nosso tempo não era assim.

Eu já fiquei atenta, quase peguei um papel e uma caneta para anotar mais um dado importante para solucionar a questão da cólica, acreditando que estaria por vir o nome de um medicamento tradicional ou uma técnica antiga. Mas não foi nada disso:

– A gente simplesmente ia fazendo o que achava certo. Não ficava perguntando para médicos ou procurando no Google.

Na época não dei tanta importância para essa colocação, mas agora fico refletindo sobre como a gente acaba complicando coisas que poderiam ser mais fáceis.

E me peguei pensando em várias vergonhas de mãe que já ouvi muitas amigas – e eu mesma – confessarem baixinho. Vê se vocês não concordam comigo:

imagem de mãe com bebê no colo fazendo careta

Vergonhas de mães:

  1. Oferecer o bico (chupeta);
  2. Dizer que o filho acorda de noite;
  3. Dar o peito para voltar a dormir;
  4. Deixar dormir na sua cama;
  5. Dar papinha “pronta”;
  6. Deixar comer açúcar;
  7. Sentir saudade da vida antes da maternidade.

1. Oferecer o bico (chupeta):

Tenho uma amiga muito querida – e supermãe – que morre de vergonha de dizer que deu o bico para o filho (nem tira fotos do filhote com o bendito para não ter “provas” do crime). Exageros à parte, só a gente sabe o quanto nosso pequeno chora à noite e os artifícios que temos para contornar a situação. Depois vai ter outro trabalho para tirar? Talvez – por aqui não foi tão complicado assim dar adeus ao bico. Mas, “cada agonia no seu dia”, como diz o meu príncipe.

2. Dizer que o filho acorda de noite:

Existem tantos livros e técnicas por aí para treinar o bebê a dormir a noite toda que, sinceramente, eu mesma já senti vergonha de falar que o meu filho acorda de noite (ainda hoje, com quase 3 anos). Aqui em casa temos uma teoria: sempre que comentamos com quer que seja que o pequeno está dormindo bem à noite, ele começa a dar trabalho de madrugada. A contrario senso, melhor não dizer nada – ou falar que ele dorme mal!

3. Dar o peito para voltar a dormir:

Sim, porque milhões de pessoas dizem que não se deve acostumar o bebê a dormir no peito. Pode mesmo ser mais benéfico não fazer a associação peito x sono, mas só a mãe – especificamente a mãe, nesse caso – pode decidir se dar de mamar é o melhor jeito de fazer seu filho voltar a dormir. E se for, por que não fazer desse jeito?

4. Deixar dormir na sua cama:

Essa foi uma das minhas maiores vergonhas de mãe por um bom tempo. Isso porque o Vinicius dormiu a noite toda no berço, sozinho, por um bom tempo. Então, ter ele dormindo na minha cama me parecia um retrocesso. Mas cansei de lutar e me rendi ao fato de que às 4 da manhã eu não quero educar ninguém. Quero simplesmente voltar a dormir o mais rápido possível (e deixar que meu filho sinta-se seguro no meio dos pais).

5. Dar papinha “pronta”:

Não é o meu caso, mas tenho algumas amigas que se cobram muito por não poder cozinhar sempre e ter que oferecer potinhos industrializados para o filho. É preciso dizer que há ótimos produtos no mercado que podem sim valer como uma boa refeição para os pequenos. (eu bem que queria que o o meu filho aceitasse esse tipo de produto – quebraria muitos galhos por aqui –, mas ele não gosta)

6. Deixar comer açúcar:

Não me entendam mal, sou totalmente a favor da alimentação saudável! Acho sim um absurdo oferecer refrigerante na mamadeira. Por outro lado, permitir que o filhote experimente um docinho no seu aniversário de 1 ano ou coma um chocolate na Páscoa não vai matar ninguém, né? Não precisamos sentir vergonha – nem culpa – por isso, certo?

7. Sentir saudade da vida antes da maternidade:

Esse é um ponto que repito bastante aqui no blog e nas conversas com as minhas amigas. Sentir saudade da vida antes de ter filhos não deve ser vergonha para ninguém! Ainda mais se a vida pré maternidade era boa. De forma alguma isso significa que nos arrependemos de ser mãe ou pai, muito menos que não amamos nossos filhos. Como diz esse texto da Marcela (do Não São Gêmeos): tudo bem se sentir cansada, “mãe também é gente”!

Minha intenção com esse post não é causar nenhuma polêmica. Muito pelo contrário: é dizer – repetir, na verdade – que o certo na maternidade (e na vida) é o que funciona para a sua família. E se funciona para ti, não há porque se envergonhar.

Menos vergonhas de mãe!

Menos culpa e mais respeito – por uma maternidade mais leve e menos complicada.

Agora me conta aí que outras vergonhas eu poderia acrescentar nessa lista? Quais dessas vocês já sentiram e – graças a Deus – superaram?

imagem de um menino se escondendo da mãe

Você tá feliz, mamãe? (“terrible two” – os terríveis dois)

Não nominei o terrible two na lista acima, mas a verdade é que várias dessas vergonhas de mãe acontecem exatamente nessa fase. Os terríveis 2 anos têm esse poder de aflorar muitas vergonhas nas mães e pais.

Você tá feliz, mamãe? (acreditem isso foi dito por um menino em pleno terrible two)

De uns tempos para cá o pequeno começou a repetir essa frase com certa frequência. Parece fofo, né? E eu acho fofo, devo confessar, mas o contexto em que ela é dita não é nada meigo.

Normalmente, o danadinho confere se eu estou prestando atenção nele, faz algo que sabe que não é permitido e solta a já clássica pergunta: “Você tá feliz, mamãe?

Mas por que cargas d’água os filhos parecem ter verdadeiro prazer em desafiar os pais?? Por que eles não podem simplesmente aprender pelo exemplo (o que, de fato, fazem) ou se satisfazer com a resposta que é dada uma vez de forma clara?

Não… eles precisam testar seus limites (e os nossos) muitas vezes. Repetidamente. Diariamente.

Vergonhas de mãe e desafios de mãe

Os teóricos do desenvolvimento infantil explicam que as crianças aprendem por repetição. Aliás, não só as crianças, mas todos nós. Quando não entendemos o que determinado parágrafo quis dizer, voltamos ao começo e lemos de novo. E de novo, se for preciso.

Até os animais aprendem por repetição. As “novas” técnicas de adestramento valorizam a premiação do comportamento desejado. Estimula-se que o cachorro repita diversas vezes um mesmo comportamento – como sentar, deitar ou dar a pata – e se oferece um prêmio todas as vezes que ele responde como o esperado.

(vou falar bem baixinho para ninguém ouvir, mas eu vejo muitas semelhanças na forma como lidamos com a minha cachorra e com o meu filho. Certamente meu filho é mais inteligente, mas minha cachorra é mais obediente na maioria das vezes)

O fato é que filhos testam seus pais e de várias formas.

Pesquisadores dizem que um bebê pode literalmente bater em alguém diversas vezes só para saber se a reação do agredido será sempre a mesma. Claro que eles poderiam desenvolver o mesmo raciocínio jogando um objeto no chão (o que eles também fazem, milhões de vezes por dia), mas imagino que achem bem mais divertido dar um tapa.

Pois bem, meu filhote está na fase rotulada pelos americanos de terrible two (literalmente “terríveis dois”).

Terrible two nos mata de vergonha!

(entenda um pouco mais sobre a expressão aqui) Dois anos de muita sapequice e muitos “testes”. Se ele já fazia suas pesquisas como a citada acima como bebê, imaginem agora, que fala pelos cotovelos?! Eu não sei de onde ele tira tanto argumento!

E não é só a mamãe que sofre. Os testes também são realizados com o papai, com os brinquedos, com a plantinha da sacada, com a pobre da cachorra, com as almofadas da vovó, com os carrinhos de coleção do vovô. É pesquisa que não acaba mais!

E se a resposta obtida é diferente da esperada, o interlocutor é corrigido. “Não é assim, mamãe! Só o papai que sabe!” – jogar bola de calcanhar, no caso. “Ó! A Loly saiu!” – depois da milésima vez em que ele jogou uma bola para a cachorrinha pegar, mas acaba acertando a cabeça da coitada.

Parece que não tem jeito mesmo: temos que conviver com as repetições e os testes. Resta-nos rezar para que o pequeno adquira o aprendizado logo – o que levará a uma nova fase – ou ter paciência e nos divertir nesse percurso do terrible two.

Sim, porque depois de assistir 327 vezes ao mesmo filme, tudo bem se o pequeno do seu lado te contar o final da história já nos primeiros 10 minutos de sessão. E o garçom vai entender quando a gente pedir “camarrão” – em vez de “macarrão” – de tanto ouvir o filho chamar assim. E não tem como segurar o riso quando alguém se apresenta com o mesmo nome de um personagem infantil conhecido em casa, ao cruzar o olhar com seu marido e perceber que ele fez a mesma relação.

Rir das próprias vergonhas

Então, depois de levar uma bolada na canela – mesmo que ainda seja a primeira do dia – e ouvir aquela vozinha (que eu amo!) dizendo: “você tá feliz, mamãe?”, eu respondo: “não filho, tu me machucasse”. Eu espero – até ansiosamente – pela sequência da cena que é ver o pequeno parar de correr (!!!) e me dar um beijo na perna: “e agora você tá feliz, mamãe?”.

E além do nosso imenso amor um pelo outro, só tenho uma certeza: essa cena ainda vai se repetir muitas e muitas vezes (ui!).

Como está seu pequeno terrible two?

Parte do texto acima (o que se refere aos terrible twos) foi adaptado do original publicado no Não São Gêmeos.