Já contei por aqui em diversos posts que “volta às aulas” é sempre um momento tenso aqui em casa. Mesmo o filhote já não sendo mais tão pequeno, ainda tem dificuldades de adaptação no início das aulas. Todo ano é um novo recomeço, já dizia a minha poesia!

Em tempos de pandemia, esse tema toma proporções ainda maiores. Com a volta às aulas durante a pandemia, de forma presencial, adaptações importantes precisam ser feitas na vida da criança e da família. Por isso, achei super pertinente trazer aqui para o blog dicas e informações de um profissional.

Confiram abaixo as orientações da psicóloga Maria Mabel Nunes de Morais para a volta às aulas presencial desse ano. Espero que ajude!


imagem de lápis de cor para ilustrar a volta às aulas na modalidade presencial

Volta às aulas em modalidade presencial na pandemia: como ajudar as crianças e adolescentes?

Ao final de 2019, fomos surpreendidos por um novo vírus com alto potencial de contágio que infelizmente afetava toda a população mundial. Levando em consideração as recomendações da Organização Mundial de Saúde e o potencial de contágio do novo coronavírus, vários países, inclusive o Brasil, adotaram o isolamento físico social e a quarentena como estratégia para o enfrentamento da pandemia, mantendo apenas os serviços essenciais em funcionamento. Dessa forma, foi necessário o afastamento das crianças do seu ambiente escolar. 

Após um ano do início do acontecimento, gradualmente, as escolas estão planejando retornar às aulas em modalidade presencial. Levando em consideração que o vírus ainda não foi controlado, mesmo sabendo a importância da interação social para o desenvolvimento infantil, devemos refletir sobre como as crianças irão lidar com esse retorno, visto que as instituições devem seguir um rígido protocolo de segurança para que a propagação do vírus seja diminuída.  

A volta às aulas em modalidade presencial pode levar ao estresse e ansiedade nas crianças e adolescentes no sentido de que elas vão estar inseridas novamente em um meio social, mas ainda não se sentirão totalmente protegidos do vírus e isso pode levar a algumas manifestações emocionais.  

Para entendermos um pouco melhor sobre o assunto, é importante frisar que o processo de desenvolvimento humano pode passar por influências normativas e não-normativas, e a pandemia é um exemplo de influência normativa regulada pela história, pois corresponde a um acontecimento que ocorre de modo semelhante para a maioria das pessoas. Dessa forma, todos os indivíduos estão propensos a refletir essas transformações por meio das manifestações emocionais e com as crianças não seria diferente. O que vai nos dizer se teremos mais aspectos positivos ou negativos relacionados a esse acontecimento é a forma como lidamos com ele. 

Volta às aulas em pandemia

Sendo as crianças e adolescentes o público principal desse artigo, ressalto que os pais e professores são os principais responsáveis a ajudar as crianças a lidarem com esse acontecimento de forma que eles consigam ressignificar esse momento de forma positiva. Então, aqui vou apresentar alguns pontos que podem nortear os pais e professores nesse cuidado.  

O primeiro ponto importante é identificarmos em qual fase do desenvolvimento essa criança se encontra (primeira, segunda ou terceira infância), pois é o nosso ponto de partida para pensarmos em estratégias que beneficie cada criança em sua fase de desenvolvimento. 

Sabendo disso, apresento-lhes a primeira orientação: é interessante que antes da criança voltar para a escola, os pais retomem as orientações sobre as informações gerais relacionadas à pandemia e higienização adequada, promovam reflexões sobre a importância da vacinação e que todas essas recomendações são para um bem coletivo, assim, ensinando as crianças a ter empatia pelo sofrimento do outro.  

Para as crianças menores, com até sete anos, é necessário que essas orientações sejam realizadas com vocabulário acessível à linguagem delas e com exemplos concretos, pois elas ainda não apresentam o desenvolvimento cognitivo suficiente para entender temas e situações que não conseguem visualizar. Já para as crianças maiores, a partir de oito anos, a orientação pode ser com uma linguagem um pouco mais elaborada, pois nessa fase elas já conseguem utilizar o raciocínio e a lógica de forma elementar.

Aulas presenciais em tempos de pandemia

Uma segunda orientação é que os pais reiniciem os hábitos de rotina, como organizar o material no dia anterior, colocar as crianças na cama mais cedo e sempre nos mesmos horários. De modo geral, restabelecer a rotina que havia sido modificada devido a suspensão das aulas presenciais.  

Dentro desse novo normal, as crianças precisarão permanecer convivendo com o distanciamento social, mesmo dentro do contexto escolar, e para que estas ainda sintam bem nesse processo, apresento uma terceira orientação, desta vez direcionada aos professores. Sugiro que sejam promovidas formas de interação entre as crianças, como por exemplo: criar um código para o abraço, visto que o gesto não pode acontecer de fato, e assim, as crianças conseguirão se sentir acolhidas e abraçadas pelos coleguinhas mesmo distantes. 

Ainda como sugestão para os professores, trago a prática de momentos de relaxamento para que as crianças possam se sentir bem no ambiente e, assim, diminuir sintomas de estresse e ansiedade que possam ocorrer. Além disso, é importante que os professores fiquem atentos aos comportamentos que estas crianças estão apresentando durante as aulas, se perceberem que algo não está adequado, o primeiro passo é ir até a criança e chamá-la para uma conversa. A partir disso, a criança terá mais segurança para falar sobre seus sentimentos e emoções.  

Dependendo da idade, a criança não irá expressar suas emoções através da linguagem verbal, por isso é imprescindível prestar atenção nas brincadeiras, assim como nas histórias que são contadas pelas crianças e nos desenhos que elas fazem, pois essas são formas muito comuns das crianças expressarem suas emoções. Depois desse primeiro momento com a criança, é importante ter um momento com os pais para que eles também fiquem atentos em casa e observem o comportamento dos filhos com mais cautela. Algumas vezes, quando a criança sente um pouco mais da atenção dos adultos, pais e professores, elas já conseguem se sentir mais seguras e diminuem os sintomas relacionados à ansiedade que estavam apresentando. 

Imagem de lápis de cora com a frase volta às aulas em pandemia

Volta às aulas de forma presencial na pandemia

Por fim, como recomendação aos pais, é importante que estes sempre estejam presentes nesse processo de volta às aulas, perguntando ao filho ou filha como foi seu dia na escola, se sentiu-se bem ou se teve medo por não estar no seu ambiente familiar, se sente segurança para ir novamente. É importante fazer com que as crianças expressem suas emoções e se sintam integrantes do seu processo de desenvolvimento, isso irá ajudá-las a construir autonomia, assim como a diminuir os sintomas relacionados à ansiedade e estresse.  

Diante disso, é interessante frisar que podemos ter diversas reações emocionais atreladas à volta às aulas, principalmente devido ao distanciamento social, mas destaca-se que cada criança vai reagir do seu próprio jeito. A forma como a família vem lidando com a pandemia e a forma como as crianças vêm sendo inseridas nesse contexto vai fazer total diferença nas reações emocionais que elas irão apresentar. Por isso, é tão importante que a criança esteja preparada para o que ela vai encontrar na escola. Nada de pegar a criança de surpresa ou deixar para explicar tudo de última hora, pois a criança não se sentirá preparada o suficiente para estar naquele local e isso irá gerar estresse e ansiedade, dificultando sua adaptação.

Maria Mabel Nunes de Morais, psicóloga e professora de Psicologia da Estácio.